Os líderes estão mais sujeitos ao rust out, mas também são parte da solução
Ser líder é, muitas vezes, ser o único a saber existir um oásis e fazer um grupo inteiro percorrer um deserto até lá. No início pode ser o mais entusiasta com a perspetiva que será um pequeno caminho até a água e sombra fresca. Mas com a passagem dos dias, o enfrentamento de tempestades de areia, a necessidade de ensinar técnicas de sobrevivência, cuidar das feridas que se fazem pelo caminho e as altas temperaturas é possível que comece a duvidar do seu propósito e se a jornada faz sentido. Haverá mesmo um oásis ali à frente?
Reconhece este sentimento? Será que faz sentido esta missão? Para quê perseguir este objetivo se o caminho tem sido tão tumultuoso? Depois dos pensamentos em loop, vem o desânimo e a apatia. Não há desistência, há um adormecimento anímico que afeta o desempenho.
Rust out é um termo usado na indústria que se refere à deterioração de um material devido à ferrugem. Só que a indústria encontrou formas de proteger os seus metais contra o enferrujamento, no entanto para as pessoas o desenferrujar torna-se mais complexo.
O rust out pode acontecer em qualquer momento da carreira, mas é mais comum em recém-licenciados, gestores intermédios e em mulheres profissionais de alto desempenho. A investigação demonstrou que a desigualdade de género ainda presente nos dias de hoje, levam a que as mulheres sintam que devem trabalhar mais do que os homens para obter a mesma progressão na carreira, tornando-as mais suscetíveis a entrar em rust out. Já os recém-licenciados revelam sentirem-se limitados por uma função que não lhes permite demonstrar as suas capacidades e qualificações.
Rust out ou Burnout?
O rust out pode ter início numa diminuição das tarefas laborais ou nas tarefas repetitivas. O trabalho pouco estimulante, ou o fazer pouco, gera um desgaste emocional tão grande quanto a sobrecarga laboral, burnout. Assim, apesar de o rust out ter um início oposto ao burnout eles fazem parte de um mesmo contínuo, levando aos mesmos sintomas: agitação, mau humor, ansiedade, procrastinação e desmotivação.
Embora sejam fenómenos relacionados com a atividade profissional, o impacto negativo no resto da vida pode sentir-se, afetando hábitos alimentares, alterações do sono, causando inércia e infelicidade e levando à depressão.
Porquê que o Rust out afeta as lideranças?
Existe uma relação direta entre rust out e a falta de oportunidades e progressão na carreira, sendo este o motivo pelo qual as lideranças estão mais suscetíveis ao fenómeno. O líder, com um papel fundamental nas organizações, por ser uma via de comunicação entre a administração e a restante empresa e o que conduz a equipa ao sucesso, depara-se com a necessidade de representar diferentes papéis e salvaguardar os próprios interesses. Nesta mediação entre todos, são suscetíveis a rapidamente sentirem-se pouco reconhecidos, desmotivando e questionando-se se o esforço vale a pena.
O desgaste dos dias e o sentimento de o empenho não estar a ser recompensado fazem surgir o sentimento de enferrujamento.
RUST OUT, é um fenómeno tão recente que a investigação ainda escasseia, mas que se faz sentir nas organizações, a uma velocidade preocupante, e já se sabe que são os líderes os mais suscetíveis.
Mas afinal como desenferrujar?
Aquilo que está a sentir importa para a sua empresa. Partilhe com a sua organização os seus sentimentos e as suas vivências. Muitas vezes, existem mais soluções do que as que imagina. Conferir mais autonomia para que possa decidir como trabalha e o que faz, facilitar a progressão, desenvolver competências e abraçar novos desafios são algumas das ações que as ciências sociais destacam como fatores de promoção do bem-estar, em situação de rust out.
A autonomia, mestria e propósito são os três fatores que as organizações estão a apostar para desenferrujar os seus colaboradores.
Quando falamos de desmotivação não conseguimos apresentar uma fórmula pronta. Existem diretrizes, mas será sempre necessário ouvir a pessoa, perceber o que a motiva, de que forma a organização pode proporcionar sentido de propósito, aumentando o sentimento de pertença. Só uma liderança empática e de proximidade pode salvaguardar esta premissa base.
O líder é o elemento essencial para a promoção de uma cultura organizacional de compreensão e aceitação. Mas para ser este líder de suporte, precisa de saber como desenferrujar.
Procure o seu sentido de missão dentro da organização. Pode envolver-se num trabalho de autorreflexão, respondendo às questões: “Em q ue momento da minha carreira me senti mais realizado/a e orgulhoso/a? O que me faz feliz enquanto profissional?”. As respostas a estas questões irão recentrá-lo para a sua essência profissional e facilitarão o encontro de novo propósito.
Sendo que o rust out tem na sua base a diminuição ou repetição de tarefas, traga os seus interesses para o seu dia-a-dia. Quais são os seus hobbies, as suas paixões? Num primeiro momento pode parecer difícil pensar como conciliar estes interesses nas tarefas profissionais, mas acredite que é possível.
Por fim, envolva-se em conhecer a sua equipa, aqueles que atravessam o deserto consigo. Conheça as suas capacidades e competências, os seus talentos e paixões, estreite relações e pratique a empatia. Afinal, não está a fazer a viagem sozinho. Conheça-se com os olhos dos que fazem consigo a caminhada. Ao conhecer os outros dará a oportunidade de se conhecer a si também. A relação é o fator mais importante para o encontro da motivação e o restabelecer do bem-estar.
E se nada disto funcionar, chame um helicóptero de salvamento. Procure ajuda! O rust out é um fenómeno profissional que pode ter um grande impacto psicológico e a ajuda profissional pode ser necessária e útil.