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Qual o impacto da saúde financeira na saúde mental?

Qual o impacto da saúde financeira na saúde mental?

“O dinheiro traz felicidade?”. Esta é das questões que mais ouvimos. Será que podemos dizer que há uma resposta certa? Possivelmente não.

As crises económicas e sociais têm sido palco para uma maior literacia na saúde mental, pois é visível o impacto existente. Os dados recolhidos ao longo das crises financeiras que Portugal tem vivido mostram que quando a satisfação com a economia diminui, aumentam os sentimentos de tristeza, ansiedade e depressão e diminuem os sentimentos de calma, paz e felicidade.

A “disponibilidade económica” é um determinante fundamental para a saúde mental das pessoas, quer de forma direta (acesso a tratamento, …), quer de forma indireta (desemprego, expectativas, …). Acresce como fator determinante para a saúde mental, a impossibilidade de preparação para o momento de contenção financeira, como são exemplos as crises ou o atual conflito armado.

As crises económicas e os números da saúde mental

A gestão financeira e a saúde mental estão interligadas, numa relação de influência mútua. Se quando existe instabilidade financeira podem aumentar os níveis de stress e desenvolver ansiedade, o mesmo acontece de forma inversa. Uma pessoa que se sente desorganizada, triste ou ansiosa, toma decisões financeiras com menor planeamento e maior risco.

Dos estudos relativos ao impacto das crises económicas na saúde mental, destaco os dados recolhidos relativamente à crise de 2008. Foi encontrada uma relação entre diminuição da satisfação com a economia e o aumento de sentimentos negativos, verificando-se que, em 2012, 60% dos portugueses sentiam-se ansiosos, 43% com humor depressivo, 53% sentiam-se tristes e 95% com a sensação de que a vida se agravava progressivamente.

Perante a falta de recursos económicos, existe uma gestão muito boa das despesas imediatas, mas não existe investimento nas decisões financeiras que implicam planear, antecipar desafios futuros e economizar. É como se a pessoa tomasse decisões sempre no imediato.

Importa salientar que os períodos de crises impactam todos, independentemente da nossa situação financeira particular. Quer os que, mesmo com cortes, mantêm um rendimento suficiente, quer os que vivem, ou passam a viver, em situação de pobreza.

Qual o verdadeiro impacto da escassez financeira na saúde mental e na produtividade?

A falta de dinheiro para as contas diárias está diretamente associada com a tomada de decisões menos sensatas sobre as finanças pessoais, o descuido em aspetos da vida familiar e até com a qualidade do trabalho. A falta de recursos económicos direciona o foco atencional para a difícil tarefa de pagar muito com pouco. Falamos em sobrecarga cognitiva. A evidência permite-nos relacionar o foco na resolução de problemas financeiros com o surgimento de outros problemas como a falta de sono, o sentimento de insegurança, o stress. E quanto maior a permanência neste estado, maior a probabilidade de uma escalada para problemas de saúde mental como a ansiedade e a depressão.

A pobreza é considerada um dos principais determinantes socioeconómicos da Saúde Psicológica e bem-estar, pois o impacto da ausência de recurso estende-se a dimensões como o acesso à educação, à rede de relações sociais e à saúde.

Sentimentos de ansiedade e desânimo face ao futuro podem, também, surgir na situação de escassez. Escassez não é sobre não ter, mas sobre a perceção de não ter o suficiente. Por isso, podemos ter pessoas focadas na obtenção de maior lucro financeiro, sem necessariamente representar pobreza, estando a descurar de outros campos da vida, como a vida familiar ou as funções laborais. Pelo que voltamos a ter um impacto na saúde mental e o dinheiro deixa de trazer felicidade.

As entidades patronais podem ser um porto seguro?

A psicologia usa, inúmeras vezes, o conceito porto seguro para definir uma dimensão importante: a segurança. Nos momentos de instabilidade é possível criar alguns mecanismos que tragam tranquilidade individual.

Facilitar transporte, permitir troca de horários, criar um espaço de convívio, facilitar acesso a refeições, possibilitar trabalho híbrido, estabelecer parcerias com instituição de educação ou de saúde, são algumas ações que podem contribuir para uma maior segurança na vida dos trabalhadores e trazer um impacto significativamente positivo na produtividade dos mesmos.

As empresas têm um papel importante na qualidade de vida dos seus trabalhadores e, consequentemente, na qualidade das suas funções. O ambiente físico e as condições que são dadas para a execução das suas funções facilitam e potenciam o valor humano.

A pobreza e a perceção de escassez financeira influenciam a saúde mental. Esta é a razão pela qual não podemos dizer que haja uma resposta mais correta à nossa pergunta. Uma vida de sufoco financeiro impacta a saúde mental, mas uma vida dedicada à obtenção de ganhos financeiros, também. Por isso, é importante estarmos atentos aos níveis de ansiedade financeiros e procurar ajuda sempre que verificamos que estamos numa destas situações.

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